terça-feira, 12 de junho de 2012

De paquerador de atriz a 'anticartola': as faces do presidente do Santos

Ídolo por segurar Neymar, Laor revela amor platônico por atriz, fala de visão da morte, confronto com polícia e se diz obcecado pelo tri mundial

Por Alexandre Lozetti São Paulo
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Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro ajudou a mudar o panorama do futebol nacional ao peitar o assédio de Chelsea, Barcelona e Real Madrid, recusar ofertas milionárias e segurar o craque Neymar na Vila Belmiro. Também inseriu na administração de um clube de futebol pessoas que fogem do conhecido e ultrapassado estereótipo do cartola brasileiro, bem sucedidas em atividades distantes do esporte. Mas quem é esse homem?
Ninguém melhor do que o próprio presidente do Santos para responder. Em mais de 90 minutos de conversa na sua ampla sala na Vila Belmiro, Laor abriu detalhes de sua vida ao GLOBOESPORTE.COM. Sobrevivente de quatro paradas cardíacas em uma hora, líder estudantil que apanhou da polícia, expulso da faculdade pela ditadura militar, obcecado pelo tricampeonato mundial, pai de seis filhas, ex-marido de três mulheres e apaixonado pela atriz Bruna Lombardi, a quem se declarou no último dia 29 de abril.
- Estava em Comandatuba e ela e o Carlos Alberto Riccelli (ator e marido de Bruna) estavam tomando café da manhã. Eu me apresentei, pedi licença para me sentar e fazer uma declaração: “Bruna, você sempre foi a mulher mais bonita que vi no planeta, mas mudei de ideia... Você não é só a mulher mais bonita do mundo. Eu, que já vi bromélias nascendo na Mata Atlântica e pores-do-sol alaranjados nos mares do Caribe, posso dizer com toda autoridade que você é o ser vivo mais bonito que o planeta já produziu”.
Na vida pessoal, Luis Álvaro sempre foi cercado por mulheres. Com a primeira esposa, Angélica, teve quatro filhas: Ana Carolina (hoje com 45 anos), Ana Luisa (41), Beatriz (40) e Dedé (38). Depois, casou-se com Vera e sua última mulher foi Joana, cuja relação gerou Mariana (17) e Sofia (15).
Hoje, aos 69 anos, o presidente faz questão de mandar o recado: está solteiro, apesar de ressaltar o amor platônico por Bruna Lombardi e algumas “fugidinhas”. Recentemente, inclusive, se assustou ao levar uma moça para jantar e, ao deixá-la em casa, ser chamado de "genro" pelos pais dela.
- Não sabia que existiam marias-cartolas também. Tenho conhecido algumas (risos).
A intensa proximidade feminina levou Laor a dar uma guinada e aceitar o desafio de se candidatar à presidência do Santos, tratado por ele como seu único filho homem após a vitória nas urnas. Eleito em dezembro de 2009, ele tem pavor de ser chamado de cartola, pois se considera torcedor comum, sem vícios. Para ajudar a criar o filho centenário, o presidente trocou a ternura das mulheres e se cercou de homens. Afinal, exterminar os resquícios da administração do antecessor Marcelo Teixeira, que ficou no poder por dez anos (cinco mandatos), era tarefa para mãos calejadas.
Info Hierarquia Santos (Foto: Arte esporte)Hierarquia do Comitê de Gestão criado por Luis Alvaro, e responsável pelas decisões mais importantes
Foram medidas essenciais a reforma do estatuto (com 92% de aprovação) e a profissionalização do clube. Um Comitê de Gestão formado por sete integrantes, que se reúnem às quartas-feiras por cerca de quatro horas e cobram resultados de dois superintendentes, é responsável ao lado de Laor e do vice Odílio Rodrigues por tomar as decisões mais importantes (veja acima). Entre elas, claro, esteve a manutenção de Neymar.
O presidente revela que na época houve divisão entre o que chamou de “desenvolvimentistas” (contra a venda) e “monetaristas” (a favor da negociação). Termos de política econômica, assunto tão distante das quatro linhas, mas usado com propriedade e frequência por Laor. O código de ética do Comitê determina que todos assinem a opção da maioria. Portanto, as decisões se tornam unânimes. Venceu a permanência do craque, mas ele jura que, em nome das regras, teria vendido Neymar se fosse minoria.
- Entraria um cheque generoso, pagaríamos a dívida herdada nos anos anteriores e teríamos caixa para descobrir novos craques. Era compreensível e aceitável, o óbvio era vender, mas me recuso à ditadura do óbvio. Não tenho medo do novo, de criar, ousar.
Luis Alvaro quebra paradigmas até na hora de quase morrer. Em 2003, sofreu infarto e teve quatro paradas cardíacas no intervalo de uma hora, na UTI do Hospital Albert Einstein. Na última, a massagem para trazê-lo de volta foi tão forte que lhe rendeu uma vértebra quebrada, mas não apagou a lembrança "transcedental" do momento (veja vídeo acima).
- Tive uma visão, como se fosse um quadro de Gauguin (pronuncia-se Gogán, pintor francês do século 19), cores tropicais explodindo em brilho. Uma sensação de prazer plena, inédita na minha vida. Estava extasiado, feliz como nunca havia sido. Talvez tenha sido a visão do pós-mundo, e me deixou aliviado porque não tenho mais medo de morrer.
Teste para cardíaco
Após o infarto, o empresário aceitou se candidatar à presidência do Santos, o que acarretou na ameaça de seu cardiologista de interná-lo como débil mental. Laor agradece a Deus pela derrota nas urnas, pois provavelmente não teria resistido a subir e descer a serra semanalmente. Hoje, nove anos depois, e já em seu segundo mandato, trabalha cerca de 11 horas por dia com aval médico. Quando recebeu a reportagem do GLOBOESPORTE.COM, estava ao telefone e marcava para o dia seguinte duas reuniões e um jantar em São Paulo, onde tem um apartamento e passa os fins de semana.
Não são apenas cartolas que o procuram. Segundo ele, se ganhasse um real por cada foto com torcedores de todos os times, estaria entre os mais ricos do mundo. Frasista nato, Laor jura andar tranquilamente em meio a corintianos no Pacaembu ou são-paulinos no Morumbi. O segredo? Em vez de atacar adversários, eleva seu clube a patamares inatingíveis, com humor, a ponto de assegurar que Deus é santista para não se indispor com nenhum santo.
- Futebol tem de ser bem humorado, não pode ter dirigente sisudo, isso estimula briga de torcidas. É mais fácil receber uma brincadeira com crítica embutida do que uma crítica na lata.
PRESIDENTE DO SANTOS ALAOR RIBEIRO (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)Laor mostra foto com visual 'hippie de gravata'
(Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Apesar da vocação política, Luis Álvaro vai se aposentar ao fim de seu mandato, em 2014. E nem pensa em cargos públicos. Descanso para quem está na ativa desde os 16 anos, quando foi eleito presidente da União dos Estudantes Secundaristas de São Paulo. Com uma pasta debaixo do braço, nos anos 50, rodava colégios defendendo os interesses dos alunos, e organizava greves. Numa delas, levou cacetadas da polícia na Praça da Sé, na capital paulista. Aos 20 anos interrompeu a faculdade de Sociologia e Política para ser chefe do gabinete do Ministério da Educação, em Brasília, no governo João Goulart.
Em 1964, no início do curso de Ciências Sociais, sua sala de aula foi invadida por militares. Era o início da ditadura que obrigou Laor a explorar sua versatilidade. Fora da faculdade, abriu uma agência de propaganda e iniciou trajetória que passou pelo gabinete do ex-ministro da Fazenda, Bresser Pereira, pelas direções do Banespa e do Banco Central, e culminou no ramo da avaliação imobiliária. Autoridade no assunto, ele é proprietário da Adviser.
As frequentes citações a Gauguin, Eduardo Galeano (escritor uruguaio) e ditados em latim dão a impressão de que o presidente coleciona diplomas, mas ele nunca terminou uma faculdade.
- Gosto de ler desde pequeno, meu pai tinha uma biblioteca enorme em casa. E me tornei um autodidata - explica o dirigente, que lançou em 1989 um livro de poesias.
Ganso no Inter?
Luis Álvaro não admite ser “cartola”, mas mantém relação saudável com os demais. Conhece Juvenal Juvêncio há 50 anos e já se sente íntimo de Mário Gobbi. No ano passado, em meio aos boatos de que Ganso poderia usar um rival como ponte para jogar na Europa, ele ligou para os presidentes de São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Internacional para pedir companheirismo no assunto. Durante a fase de grupos da atual Libertadores, ouviu do colorado Giovanni Luigi que o contrato para o meia estava pronto no Beira-Rio, mas seu telefonema “acendeu a luz” e o clube gaúcho desistiu do negócio.
O presidente se define como um sujeito “low profile”. Ou seja, mantém vida discreta, sem excessos, vaidade ou luxos. No Santos, encostou as gravatas. É o único nas reuniões com camisa pólo. Amante de boa comida e bom vinho, diz até que já poderia morrer feliz depois de ver um neto corintiano se "converter" ao Peixe. Mas admite que ainda tem uma obsessão: o tricampeonato mundial. Por isso o duelo contra o Corinthians, pela semifinal da Libertadores, é tão importante (veja no vídeo acima).
- É uma obsessão meio folclórica, mas seria ver o Santos de novo respeitado e consolidar nosso amor próprio como totalmente restabelecido.
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